7 de fevereiro de 2015

Carta Aberta

Excelência Reverendíssima 
Dom Virgílio Antunes, Bispo de Coimbra

Tendo chegado ao nosso conhecimento que V.ª Ex.ª irá realizar, na próxima semana, uma visita pastoral ao Arciprestado de Pombal e que a mesma está a suscitar grande entusiasmo em toda a comunidade, crente e não crente, aristocratas e plebeus, teólogos e leigos, ricos e mendigos; vimos, por este meio, solicitar a V.ª Ex.ª que conceda ao Farpas, também, uma pequena audiência. Bem sabemos que a agenda de V.ª Ex.ª, por estas terras, vai ser muito variada e intensa, que o seu tempo é sagrado, e que continua a receber pedidos, iguais ao nosso, das mais variadas entidades (organismos públicos, associações, escolas e personalidades locais); mas esperamos uma pequena atenção da sua parte e um rasgo de ousadia na senda dos novos ares de abertura que sopram do Vaticano.
Não conhecerá, com certeza, V.ª Ex.ª, o Farpas. Estranhará o nosso interesse na audiência que, agora, lhe pedimos. Compreendemos. Até nós o estranhamos, e não saberemos explicar muito bem, o que levou um grupo de pouca fé em Deus e, porque não dizê-lo, na Humanidade a pedir uma audiência a V.ª Ex.ª. Intuirá, com a sua sapiência, que só circunstancias muito especiais levariam um grupo de tresmalhados, conhecidos na igreja, por maldizentes comunistas, a requerer seus bons ofícios de V.ª Ex.ª para afastar os demónios que se apoderaram de muita alma piedosa nesta malfadada terra.
Se nos receber (ou ler), perceberá V.ª Ex.ª que somos gente simples, que herdou sem querer a cultura grega, a ordem romana, a moral cristã e todas as mais ilusões que formam a nossa civilização, que apesar de não ser muito temente a Deus e aos seus representantes na terra, respeita os credos e os seus difusores, quando estes são exemplos de cidadania; mas farpeamos os poderes instalados, os oportunistas e os manhosos, a hipocrisia e o servilismo, a obscenidade e o desperdício.
Se nos receber, ficará V.ª Ex.ª a conhecer muito melhor o seu rebanho e os seus ajudantes: as suas maneiras, os seus vícios e as suas misérias. Queira V.ª Ex.ª saber que nesta terra há almas sobre quem pesa como uma maldição o não lhes ser possível ser hoje gente da idade média, que se dizem muito piedosas, mas cometem todo o tipo e sacrilégios em nome de Deus.
Por tudo isto, esperamos que V.ª Ex.ª não tenha receio de se encontrar com estes pobres “pecadores”, quais ovelhas tresmalhados do seu grande rebanho; e, tal como Jesus, enfrente os fariseus e os escribas e faça descer sobre eles o Divino Espirito Santo

Atenta e respeitosamente,

4 comentários:

  1. O povo de Pombal gosta destes eventos de pompa e circunstância. Convidam os autarcas a seguir são benzidas as máquinas e camionetas e depois vão almoçar em paz com Deus e com os homens. A forma de fazer política em Pombal mudou, vamos todos na paz do senhor

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  2. É evidente que subscrevo na íntegra esta carta aberta! :)

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  3. Ó camarada Adelino Malho, como raio queres tu uma audiência com o Reverendíssimo Bispo se não houve nenhum farposo a recebê-lo hoje de manhã.
    Era o mínimo, dos mínimos, mas nem assim.
    Fico triste

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  4. Adorei o teor da carta! :)
    Quando a religião e política andam de mãos dadas, o resultado é assustador.
    No tempo da Santa Inquisição, era o Vaticano que fazia o papel do actual ISIS. Quando os Monarcas tiveram a (feliz) ideia de instaurar a Laicidade na política, observou-se um desenvolvimento mais adequado e mais equilibrado, para o povo.
    O Papa Francisco mudou o discurso e o tom, mas, contudo, MUITOS cónegos Católicos ainda condenam:
    a) entrada de homossexuais nos templos;
    b) entrada de casais divorciados nos templos;
    c) uso de contraceptivos;
    d) impedimento das mulheres terem a mesma carreira religiosa dos homens.

    É o amor. À moda religiosa, mas é amor.

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