16 de junho de 2017

Farpas eleitorais

O Farpas vai abrir a porta do blogue à opinião de todos os candidatos autárquicos que entendam partilhar artigos originais (e não cópias de programa eleitoral), a partir de hoje e até à campanha eleitoral, em meados de setembro. Avizinha-se um verão quente e aqui na casa suportamos bem o calor, e até gostamos dele. Por isso, os interessados em partilhar com a blogosfera o que pensam sobre a terra e a gente, devem fazê-lo para farpaspombalinas@gmail.com, num máximo de 3000 caracteres (incluindo espaços) e preferencialmente ilustrados com uma fotografia alusiva. Venham daí essas farpas!

3 comentários:

  1. O inferno, de Dante

    (a fotografia está no mail)
    Declaração de intenções.
    Pensei que o inferno de Dante seria o título mais adequado para o pobre do meu pobre texto atendendo que se “avizinha um verão quente e aqui na casa (Farpas) suportamos bem o calor e até gostamos dele”, escrevem.
    Como na Divina Comédia, o Farpas é uma comédia, em cujo epicentro está sempre um lúcifer, com o seu pequeno inferno.
    Por outro lado, apesar das virtudes estarem em desuso, Platão, para além das virtudes cardinais, a saber Justiça, Fortaleza, Prudência e Temperança, explicou as virtudes onde o Farpas vai beber, como mui bem o master amiudamente sinaliza.
    Vamos, pois, ao bebedor onde o Farpas bebe.
    Na conversa de Platão com Sócrates, não o nosso, mas o outro, Sócrates interroga-se sobre a se a virtude diferirá, em alguma coisa, quer seja numa criança ou num velho, quer numa mulher ou num homem.
    Sócrates questiona Platão se não lhe disse que a virtude do homem é governar bem a cidade e que a da mulher “é governar bem” a casa?
    Platão respondeu-lhe:
    Sim disse!
    Depois de alguma troca de opiniões, Sócrates questiona Platão se ambos, homem e mulher, não governam de maneira justa e prudente a cidade e a casa, cada um de per si?
    É evidente, diz Platão, mas devem ser bons da justiça e da prudência.
    E da Fortaleza e da Temperança, perguntou ao Farpas?
    Sócrates volta à carga: Mas a criança e o ancião? Será que sendo intemperantes e injustos poderão jamais ser justos?
    Depois de concertadas as opiniões, Sócrates, o outro que não o nosso, conclui: Já que, pois, é a mesma virtude que pertence a todos, tenta reavivar, diz a Platão, a lembrança e dizer o que Górgias, e tu com ele, diz que ela é (a virtude).
    Mas vamos ao que viemos.
    Depois da declaração de intenções, amigos e companheiros do Farpas, quero lavrar o meu mais veemente protesto pela discriminação negativa de que sou alvo dado que não sou candidato a nada e muito menos às Autárquicas 2017, mas tenho uma ideia para Portugal, outra para Pombal, uma outra para a minha terra e para a minha gente e outra, ainda, para a minha rua e sou cerceado de colocar à discussão estas quatro ideias.
    Mas como já vai sendo hábito por estas paragens vou, mais uma vez, ingloriamente, reconheço, cavar bem fundo nas vossas vidas (se é que vivem, ou, quiçá, só respiram para infernizar a vida dos outros) para que o conjunto de todos e todos em conjunto alevantarmos Pombal bem alto e GRITAR quão é bom viver em Pombal, ou nas suas redondezas.
    Todos sabemos que as campanhas eleitorais servem para tudo menos para discutir o futuro, todavia esse é tempo de falar e de ouvir, por que aquele chavão de fazer campanha eleitoral durante toda a vida útil do mandato carece de ser provado, como uma discriminação positiva.
    Assim, feitas as declarações de intenção, vamos às ideias.
    Valha-me Deus e Nossa Senhora da Boa Morte, não é que me deu uma branca.

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  2. Do Inferno, de Dante ao Céu, de Kant
    Cá com o meu fraco pensar, pensei que a Senhora Farpas, por não gostar de Dante e muito menos de Platão, ou mesmo de Sócrates, não o nosso, mas o outro, poderia gostar de Kant.
    Assim, apoiando-me na sua “Crítica da Razão Prática”, que estive a reler, vou voltar à ensinança.
    Para a semana, promessa de escuteiro, vou completar o pensamento de Kant com a afirmação de Santo Agostinho que, quando questionado sobre o mal, afirma que o mal é um buraco no Bem.
    Por não ter arte, nem engenho, para interpretar Kant vou apoiar-me no seu pensamento para cavar bem fundo nas vossas almas.
    Antes, porém, todavia, vou apoiar-me, também, na análise SWOT que elaborei sobre a vida vivida pela Senhora Farpas e que Kant equaciona de outra forma, mas atinge os mesmos objectivos.
    Kant define princípios que incluem várias regras práticas. “São subjectivos, ou máximas, quando a condição é considerada pelo sujeito como válida unicamente para a sua vontade; mas são objectivos, ou leis práticas, quando essa condição é reconhecida como objectiva, isto é, válida para a vontade de todo o ser racional”.
    Kant admite “que a razão pura pode conter em si um fundamento prático, isto é, suficiente para a determinação da vontade e assim existem leis práticas; se não, então todos os princípios práticos serão simples máximas”.
    E Kant diz mais. “Numa vontade patologicamente afectada de um ser racional, pode encontrar-se um antagonismo entre as máximas e as leis práticas reconhecidas por ele mesmo”.
    E Kant continua “Por exemplo, pode alguém tomar por máxima o não suportar sem vingança insulto algum e, no entanto, reconhecer ao mesmo tempo que não é uma lei prática, mas apenas uma máxima sua, e que, como regra para a vontade de todo o ser racional, ela não pode harmonizar-se consigo mesma numa só e mesma máxima”.
    Aqui chegados e se tiveram a bondade de ler o pensamento de Kant, que eu relatei, mas poucochinho, facilmente concluíram que o mal é, mesmo, um buraco no Bem e o Farpas é o seu expoente máximo.

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  3. Hoje proponho-vos ir do céu de Kant, passando por Santo Agostinho, estacionando, um pouco, em Jonh Locke, depois de passarmos por Descartes.
    Reconheço, humildemente, que nunca tinha lido Locke mas, depois de ler, pareceu-me uma boa transição do buraco no Bem, onde se aloja o mal, para a realidade da vida e do Farpas em particular, fechando, assim, este ciclo de análise.
    Jonh Locke publicou em 1681 os dois tratados sobre a governança, onde define as regras da boa convivência entre governantes e governados (um contrato social) numa perspectiva de igualdade e de paz, assentes em quatro pilares, (ou Direitos naturais) a saber, o Direito de Vida, de Liberdade, de Propriedade e o Direito à Resistência à Tirania.
    Sem arte, nem saber, vou tentar alinhavar um fio condutor lógico filosófico (esta é de um electrotécnico, não filósofo), para melhor compreender os seres racionais que estão por detrás da senhora Farpas, ainda acreditando que a Filosofia é uma ciência lógica, mesmo que não sendo exacta.
    Já vimos que as virtudes de Platão e muito menos os diálogos deste com Sócrates, não o nosso, mas o outro, não colhem acolhimento no seio do Farpas.
    De igual forma as ideias de Kant são a chave para uma fechadura que a senhora Farpas não tem.
    Santo Agostinho, no diálogo sobre a ordem, refere que Licêncio lhe disse “Deus não ama os males não por outra causa a não ser porque não pertence à ordem que Deus ame os males. Por isso, ama muito a ordem, porque é por ela que não ama os males”.
    Mas deixemos Santo Agostinho e copiemos, da apresentação do Discurso do Método, de Descartes (1595-1950), escrita pelo Filósofo Sousa Dias, o que de mais importante importa reportar para melhor compreendermos a coisa: “Numa época de crise espiritual com o confronto entre a ciência escolástica tradicional, de matriz aristotélica, e a nova ciência matemática da natureza de Copérnico, Kepler e Galileu, Descartes decide-se pela refundação radical da filosofia”.
    Podemos, com algum jogo de cintura, concluir que os seres racionais que alimentam a senhora Farpas estão num limiar iconoclasta de não retorno.
    Nem Locke com seu saber, saber, consegue dar a volta à situação, dado que ele próprio afirma que “Um Estado em que eles sejam absolutamente livres para decidir as suas acções, dispor dos seus bens e das suas pessoas como bem entenderem, dentro dos limites do direito, sem pedir a autorização de nenhum outro homem nem depender da sua vontade.” conduz ao caos, digo eu.
    E diz mais: “Eu asseguro tranquilamente que a governança civil é a solução adequada para as inconveniências do estado de natureza”.
    Natureza morta, acrescentaria eu, de que o Farpas é o expoente máximo.
    Saúde e Fraternidade.

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