29 de junho de 2021

A autarquia e a arte pública


A praga das aberrações estéticas que poluem as cidades portuguesas é a prova evidente da falta de gosto (cultura?) dos nossos políticos locais. Pombal, nesse aspecto, não é excepção. 

A forma como a discussão sobre a estética do espaço público tem sido negligenciada só pode ser explicada pela ignorância de que os devaneios artísticos dos autarcas são pagos com o nosso dinheiro. Pior ainda: na maiorias das vezes, os "artistas" são contratados com critérios dúbios, sem qualquer escrutínio, numa teia obscura de amizades pessoais ou partidárias. 

Em Pombal, o consulado de Narciso Mota ficou marcado pela estética realista do escultor José Núncio, responsável por, pelo menos, por três "obras de arte" na cidade. Convenhamos que, para uma cidade que se reivindica como inovadora, as obras do Núncio não são o melhor cartão de visita. 

Com Diogo Mateus, e especialmente com a vinda do Festival Sete Sóis Sete Luas, surgiu a esperança de que a autarquia começasse a dar mais atenção à arte pública. A verdade é que foram feitas em Pombal obras muito interessantes, como o mural "Revolução dos Cravos" do artista italiano Eron, ou a "Janela" da artista (também italiana) Alice Pasquini. 

Mas, como em tudo, a essência das coisas vem sempre à tona. No caso de Diogo Mateus, ela revelou-se no recente Memorial do Bodo e no mural do Alto do Cabaço, feito com o objectivo de "criar um ponto de interesse turístico". Na nota de imprensa de apresentação do mural foi dito: "imagina-se o interesse em tirar fotos à frente do mural e partilhar nas redes sociais, incentivando assim à divulgação da cidade". Agora que, também eu, tenho Facebook, posso afirmar que a encomenda de Diogo Mateus ao ilustrador Sérgio Marques (a quem, imagino, pouco espaço deve ter sido dado à sua criatividade) não tem cumprido o seu propósito: até ao momento, nem uma mísera "selfie" consegui encontrar!

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