Derreti boa
parte dos melhores anos da vida nos cafés. Nos últimos anos,
afastei-me deles, ou eles de mim. De vez em quando, sem saber por quê, volto…
Hoje (sexta-feira), fui ao Nicola. Nunca gostei do Nicola; não do café, mas da
sua clientela. Actualmente está diferente, ou indiferente. Gostava mais do Luna,
café e sala de jogos, mas desse não vale a pena falar - não existe, nem em
recordações.
Tomei um café; e fiquei por lá um bocado. O Nicola está banal. De
resto, nos cafés dos nossos dias tudo é banal. Reparo que duas criaturas numa
mesa ao lado e três noutra conversam. Com ar distraído, entretenho-me a ouvir
as duas conversas, uma com um ouvido, outra com o outro (sempre gostei de
exercitar esta faculdade outiva). Os dois reformados da mesa ao lado lamentam a
falta de rumo para os novos, e contam em histórias sem pés nem cabeça as suas
vidas sofridas. Acho que eles conversam simplesmente para encher os dias. Noutra
mesa sentam-se três que parecem formar uma família; falam de coisas nítidas e
verosímeis. A mulher conta o caso da sobrinha que tinha acabado de entrar para
a câmara; sente-se bem a falar dela com ar de quem dá conselhos de como dar
caminho à vida.
Entra o Faria, acena a todos e todos respondem. Logo depois,
entra um homem de meia-idade, atarracado, com cabeça redonda e orelhas tesas, traz
fato azul-escuro e camisa branca por debaixo da gravata vermelha; desceu dos
passos do concelho, denota uma felicidade contida, cumprimenta todos, o Faria de
forma mais efusiva. O seu jeito folgazão esconde uma malícia singular que salta
aos olhos. A mulher aproveita o momento para lhe agradecer um favor, que ele desvaloriza
de forma cordata. Parece incomodado.
Surgem-me memórias vagas de outros tempos que ficam, por uns
instantes, no pensamento: um Nicola sempre cheio e um presidente que ali fazia
política e distribuía atenções às claras. E logo de seguida, sem razão
aparente, cai-me no pensamento imagens do actual soberano, na capital, por
entre oficiais e outros que tais, cada vez mais longe dos seus concidadãos.
Ai, meu Pombal!
Adelino, a tua imagem é tão clara que adivinhei logo quem era o personagem de fato azul e gravata vermelha...Por incrível que pareça esse Jovem-Senhor é o dono-disto-tudo em Pombal. Ele manda nos Vereadores, manda no Partido, manda na Junta, manda no faval...só tenho dúvidas se manda alguma coisa lá em casa
ResponderEliminarEngenheiro Adelino, passe pelo BOLD é um bom café! para tomar o dito café, ver a bola, e ver pessoas interessantes e outras nem tanto. Em relação ao NICOLA é um icone de POMBAL e vou lá de quando em vez! e em relação às pessoas que lá estão ou vão, deixe lá, faça como eu pegue no automóvel e saia por aí é mais interessante do que estar numa desinteressante aldeia tornada cidade.Abraço.
ResponderEliminarCaro Malho, desta vez conseguiu transmitir aqui uma nostalgia amarga recordando os bons velhos tempos de outros convívios passados e protagonistas diferentes.
ResponderEliminarNa minha opinião, melhor ou pior, o que é facto é que são os de agora que marcam este tempo como os outros marcaram o passado.
A passagem do tempo também nos vai cansando e faz com que apreciemos a atualidade fazendo sobressair o rigor crítico que propositadamente descartamos sobre os tempos idos...
Isso é o sinal do envelhecimento que nos leva ao imutável: No meu tempo é que era bom...
Os atuais protagonistas sofrem hoje as mesmas apreciaçãoes criticas que os de outros tempos sofriam...o meu amigo é que já não se lembra.
Está bom de ver que faço questão de nada opinar sobre o âmago do seu post, pois apenas quis enfatizar o estado de espírito "vencido" como se estivéssemos condenados a um inevitável e triste desfecho.
Ora eu acho que o futuro só nos reserva coisas melhores, até porque o mundo à volta não pára nem os protagonistas de cada época importam ou intervêm assim tanto na vida coletiva embora muitos gostem de pensar que sim...
Eu apenas quis dar aqui uma perspetiva diferente sobre um assunto e preocupação comum.
É esta a utilidade acrescida que eu encontro neste blog, diversidade!
Um abraço