1 de abril de 2019

O estatuto de arrependido

1. Esta nova versão do vereador Micael António na vida política casa muito bem com a era das fake news em que vivemos. Como diz o povo, 'Quem o ouve falar não o leva preso'.
Mas esta última intervenção sobre o financiamento municipal ao que resta dos jornais e das rádios seria cómica, se não fosse trágica. O vereador pediu a lista dos dinheiros (públicos) despendidos com a comunicação social local, regional e nacional, e fixou-se nos 56 mil euros (a fatia de um bolo de 218 mil) que o Município pagou, nos últimos cinco anos, à sociedade unipessoal Crónicas Mágicas, proprietária do Pombal Jornal.
Micael António está em pleno gozo do estatuto de arrependido: foi ele um dos fiéis sectários de Narciso Mota a encaminhar toda a publicidade para o Correio de Pombal (onde os protagonistas eram os mesmos que agora dão corpo ao Pombal Jornal). A relação era tão próxima, nesse tempo, que o vereador se sentava ao lado de quem paginava os anúncios, nas instalações do jornal.
 Foi o que aconteceu quando o Tribunal ordenou que fizesse um pedido de desculpas público à directora d'O Eco (que era esta que vos escreve) por causa de umas mensagens indecorosas que enviara do seu telemóvel, perdão, do telemóvel da Câmara. Depois de negar ser o autor das mesmas, considerando que 'aquilo foi alguém para o tramar', teve um assomo de honestidade: foi à PSP e apresentou queixa por roubo do telemóvel.
Em tribunal, acedi virar a página mediante um pedido de desculpas. Mas Micael teve novo rasgo de verticalidade e decidiu adulterar o que estava combinado, com a conivência da concorrência. Lembro-me disso todas as vezes em que me cruzo, por estes dias, com o advogado Castanheira Neves, que o representou. Mais tarde, um homem que já cá não está, e que processara Narciso Mota por difamação, dizia-me, no hall do Tribunal: 'não se pode fazer acordos com eles, minha cara. Porque esta gente não é séria'.

2. Não me recordo de ter visto o vereador Micael pugnar pela sobrevivência dos jornais nessa ou noutras alturas. Fazia bem o papel de delfim, soprando ao ouvido de um manipulável presidente da Câmara que 'quem não era por ele era contra ele'. Os empresários eram candidamente aconselhados a não investirem naquele jornal, optando pelo outro. Não valeu de nada. Morreram todos.
E neste processo de asfixia da liberdade de imprensa - e da própria imprensa - não há inocentes, no espectro político e público. A dificuldade em lidar com a crítica e a deficiente capacidade de encaixe levaram a melhor, transformaram Pombal no que hoje é: dos quatro jornais que (con)viviam, entre as décadas de 1980-2000, não resta nenhum. Publicavam-se dois semanários e dois quinzenários. Hoje resta-nos o Pombal Jornal, quinzenalmente, e aquela publicação com sede no Louriçal, de nome 'Notícias da sua terra', que chega a noticiar suicídios - violando as mais elementares regras da ética e da deontologia, a que até os equiparados a jornalistas estão obrigados. 
Percebo os pés-de-lã, o conforto de viver com pancadinhas nas costas em vez de olhares adversos, mas nunca os vou aceitar. Foi essa postura que nos conduziu a esta pobreza. 

 3. A parte em que Micael tem razão é aquela em que diz que no jornal em causa 'só dá câmara municipal'. É uma espécie de contrapartida, quer ele dizer. E será, sim. Mas seria interessante perceber quanto pagavam os executivos que integrou ao extinto Correio de Pombal, e de que tamanho era a sua indignação...
Por força das responsabilidades sindicais, tenho percorrido o país em visitas a jornais e rádios regionais. Há terras (mais pequenas que a nossa) onde as rádios locais mantêm 5 (cinco) jornalistas profissionais. Há cooperativas com 600 cooperantes. Cadeiras de rádio em Trás-os-Montes. Jornais que noticiam, denunciam, intervêm, fazem reportagens e entrevistas. Onde o tecido empresarial tem consciência da importância de investir nos meios de comunicação, ao invés de encarar a publicidade como uma ajuda. Uma esmola. Afinal, ouvida a resposta de Diogo Mateus (fica para outro post), não andamos longe disso.  

2 comentários:

  1. Paula; faltou-te contar a forma como a distinta criatura contribuiu para o “assassínio” da carreira e de parte da vida da directora do tal jornal que ele ajudava a paginar. O calvário que a “pobre” e séria jornalista passou até ganhar estofo psicológico e coragem para vir publicamente pedir desculpa, num evento do Farpas; não porque alguém lha tivesse requerido, mas porque, no dizer dela, isso lhe trazia a paz interior que precisava para viver.

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  2. Todos nós sabemos que em Pombal ha uma ditadura laranja desde 1993. É um esquema tipo polvo. Controla-se tudo através de subsídios e quem não entra na jogada é simplesmente banido da sociedade Pombalense e deixa de ter negócios em Pombal. Se funciona? Está visto que funciona...Quem prospera está encostado ao regime, quem não quer seguir as regras para prosperar tem de ir governar a vida fora do Reino.

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